21 de fevereiro de 2020

Manifesto vazio

Não quero andar lá atrás
não quero ser sem interesse para os demais
talvez não vejas a luz
preferes cobrir-te de sombras ancestrais.
Mas espera pelo amor próprio
que te corte as amarras desse desejo
fraco e sedento.

Procuras em mim um falso pretexto
estou cansada de criar ilusões
prefiro o silêncio à hipocrisia do texto
já ensaiado colado a cuspo
para com tanto ego enganar as multidões
ambição numa mimada criança.

Sabes o que queres? Vazio.
Sabes o que te enche o coração? Vazio.
Sabes o que fica por dizer? Vazio.
Mas espera pelo engano
aquele que diz para amar sem fronteiras
quando a única fronteira que amas é ego.
E eis que o ego é apenas vazio.


12 de fevereiro de 2020

Aquilo que somos

Quando amas deixas ir
quando cuidas sabes que tem de florir
e quando ensinas esperas que te superem
assim deveria ser aos homens sábios
que não vendem o mundo e respeitam-no
que se despem de tudo menos da alma.

Mas querem aniquilar os homens sábios
querem permanecer com os egos obcecados
que possuem tudo e todos 
que formatam as mentes nos seus delírios
ouçam o mundo a chorar baixinho
a pedir quem o console num miminho.

Façam a revolução mas façam-na bem
não encham ainda mais os egos
não construam mais falsas promessas
ergam pontes entre as vidas e os sonhos
plantem compaixão nos nossos filhos
porque o fim está próximo e temos de ser
aquilo que fomos naquilo que somos.
Amando.

30 de janeiro de 2020

Livre e verdadeira

Livre não sou quando quero algo
maltratando-me com falsas premissas
quando o importante é o vazio
que traz a clarividência de outra vida.

Verdadeira não estou presa a amarras
ditadas por uma sociedade errada
criada por egos milionários sanguessugas
que arrastam pensamentos à praça pública.

Livre e verdadeira só um vislumbre
no acto de me despir da velha roupagem
de me abraçar por inteiro à luz da lua
e beijar os raios de sol na inocência.

Consiga eu alcançar esse vazio
consiga eu agradecer ao infinito
todas as quedas que me fazem voar
todos os dilemas que me farão libertar
num único silêncio.




26 de janeiro de 2020

Estranho hábito de amar

Quando se encontra amor na palma da mão
estranha-se o estranho hábito de amar
sentindo só por sentir.
Tão raro encontrar amor assim
desprovido de tudo de ti e de mim.

Até eu tenho de controlar o apelo
de abraçar alguém que quer um abraço
inocente e puro agora e oportuno
um simples refúgio de alguém querido.
Tão simples multiplicar amor
quando a humanidade complica a equação
e não se convence do poder do resultado.

Quem me dera poder abraçar sem errar
sem que outro julgasse em causa falsa
quem me dera poder abrir essa flor
enquanto mergulho nas ondas do mar
e alcançar o desejado da criação.

6 de dezembro de 2019

Seguindo-te

Seguir falsos deuses é cobardia
seguir alguém sem questionar é mordaz
mas ouvir o começo dos tempos em nós
cá dentro de todo um propósito é audaz
e nem todos serão capazes de olhar
pois têm medo da morte da utopia.

Mas temos de abraçar o erro
não ter receio de romper com paradigmas
e viver cá dentro em pleno
neste mundo que nos faz sentir metade
falso dar responsabilidade ao outro
quando a nossa responsabilidade é mudar.

Segue-te no melhor de ti
segue-te na promessa de amar o todo
sem medo do que há-de vir
sem medo do que te possa assombrar
deixa-te apenas abraçar.

18 de novembro de 2019

Nas folhas

Sentir em mim a dança das folhas
surrurrando histórias antigas
num recinto daquela capela
água fresca bebo naquele monte.

Se conseguisse dançar convosco
ser imortal num mundo paralelo
quando estou exausta de orar
por todos os sonhos desfeitos
por todas as palavras não ditas.
Amanhã.

Fui feliz abraçada à noite
que me segurava com ternura
que me prometia o regresso a casa
quando alcançasse amor e glória.

Hoje.
De todas as noites a derrota
a amargura de não cumprir a missão
de lutar com todas as minhas forças
e com todas elas sobreviver apenas
mas não viver não sonhar não.

Sofia Reis

5 de novembro de 2019

Em rota de colisão

Não são as palavras que magoam
essas vivem numa dualidade
desprovidas de sentido
as pessoas são
as que entram em rota de colisão
que teimam ser perfeitas
numa teimosia elitista e perdida.

Quem se perde são os sentidos
desempregados ou precários
a contrato com ou sem termo
caindo numa espiral de depressão
as pessoas não
têm de ser sempre capazes
de colorir uma vã realidade
para que outros tais acreditem
para que outros actuais invejem
o que nada tem de verdadeiro.

Estamos sim em rota de colisão
desesperados a apagar cinzentos
enganados a fabricar juízos
quando nos esquecemos de sentir
apenas simplesmente.

Sofia Reis


Manifesto vazio

Não quero andar lá atrás não quero ser sem interesse para os demais talvez não vejas a luz preferes cobrir-te de sombras ancestrais. Mas...